(C1) Tradução “O futuro mudo” de Katerina Anghelaki-Rooke 🇬🇷
Gritos, gritos, e o "agora" uiva. Consegues ouvir? O que ouvem os teus ouvidos? A tua alma, a tua imaginação, a tua intuição estão a ouvir? Grita o feliz, grita também o desesperado. Com um suspiro alegre assobia o satisfeito, com um suspiro suave o insatisfeito. Mesmo quando o silêncio absoluto reina na terra, o homem ouve o trovão do céu quando a tempestade da noite se prepara.
Os animais – os cães, os pássaros –, com as suas vozes tão diferentes, adoçam um dia amargo que talvez esteja a amanhecer. Mesmo quando a morte se aproxima, no silêncio absoluto ouve-se o sussurro das folhas que anuncia a respiração constante da vida que persiste.
Só tu, futuro duro e implacável, és mudo e dás o silêncio absoluto.
O que és tu, então? Para nós, és a base constante, a única base da nossa vida. Não o futuro do mundo, que é ouvido de forma ensurdecedora pelos cientistas, físicos, astrólogos...
Eu quero ouvir de ti próprio o meu próprio futuro, o futuro do meu coração. Quanto mais irá bater? O futuro do meu pensamento. Quando começará a delirar? O futuro da minha resistência. Quando vou ajoelhar-me a meio do caminho que tracei com tanto anseio?
Dir-me-ás, que exigências alienígenas são estas? Conheces alguém que saiba? Além disso, temos tantos indicadores óbvios: a idade, as doenças... O que é que queres mais?
E depois, há o destino.
Ah, sim, certo! Tinha-me esquecido. Mas eu acredito que até o destino depende de ti, meu futuro. Vejo-vos a dormir abraçados, até mesmo a se tornarem um só. Mas eu quero conhecer o teu outro parente: o tempo. Como é a vossa relação? O tempo, essa laranja agridoce, por quanto tempo mais continuarei a espremê-la? Não só porque cada gota é vida – por mais veneno que contenha –, mas também porque aprendi... O que é que aprendi eu? A embalar-me em cada momento, a sentir a respiração do tempo na minha pele, a respeitá-lo, mesmo quando me faz sofrer, a reverenciar a sua omnipotência e a sentir-me pecadora quando não o aproveito. Aprendi tudo isto e por isso creio que tenho o direito de saber quanto tempo me resta, quão distante está o futuro do meu fim. Quero saber com precisão. Não em referência a décadas e outras generalidades que esmagam as particularidades de cada época... Meu futuro, diz-me…
Quanto, quando... Ah! Ouvi algo... Respondeu-me! Mas, como? Uma gargalhada?! Sarcástica! O futuro responde com sarcasmo. Estava errada então... O futuro não é mudo.
Os portugueses e o frio
Texto humorístico (A2+)
Em Portugal, o frio é tratado como uma criatura mítica que aparece uma vez por ano, quando o termómetro cai para uns "dramáticos" 10 graus Celsius. A nação entra em modo de "alerta polar". Os portugueses transformam-se em verdadeiros exploradores árticos, armados com camisolas polares e casacos de lã da cabeça aos pés. Considerando que a temperatura média em Portugal é de 20 graus Celsius, constante durante quase todo o ano, de facto 10 graus é uma descida castastrófica na temperatura. É razoável e compreensível esta grande apreensão (e sofrimento) dos portugueses.
Então e as casas em Portugal? Claramente, há um problema sério. Especialmente nos dias em que está mais quente na rua do que em casa. É irónico, não é? Parece que os arquitetos do passado achavam que vivíamos num eterno verão. Mas ao menos temos janelas grandes para vermos o sol. Temos de ver o lado positivo. Ou tentar.
Pessoalmente, eu também não gosto do frio. Em particular, não gosto quando eu tenho frio e os outros não. Quando vejo todas as outras pessoas com t-shirts como se estivessem nas Bahamas e eu com uma camisola de gola alta como se viesse da Islândia, depois de escapar de um documentário sobre a vida no Ártico. É como se estivéssemos todos a viver em realidades meteorológicas paralelas, simultaneamente, no mesmo país.
(C1) OS SURFISTAS INTELIGENTES
Crónica de Miguel Esteves Cardoso (com supressões)
Antigamente, segundo me dizem, os homens não se queriam bonitos e as mulheres bonitas tinham fama de ser estúpidas. Hoje, sabe-se lá por que estranho fenómeno genético, mudou tudo. Portugal já não é o que era. Por um lado, as mulheres bonitas são cada vez mais inteligentes. É praticamente impossível encontrar uma «loura estúpida», por muito que se procure. Por outro lado, os homens agora querem-se e chegam a exigir-se bonitos. O que aconteceu?
Embora me custe dizê-lo, os homens estão cada vez mais estúpidos. Todos os homens. Os feios e os bonitos. Bem sei que o sexo forte foi sempre fraco em inteligência, mas tanto assim também não. A prova de que as mulheres são mais inteligentes está no desprezo que votam aos desportos em geral, e aos desportos menos pensativos em particular. Qualquer rapariga com dois dedos de cabeça prefere ter um surfista a ter de fazer surf.
No entanto, acho que as raparigas portuguesas exigem de mais dos seus rapazes. Porque é que um surfista há-de ler Proust? Alguém imagina Proust a fazer surf? O surfista é um género, e não faz sentido misturar os géneros. Tem de se manter na sua pureza e, se for caso disso, na sua estupidez natural. Se não, qualquer dia temos surfistas barbudos, sentados na praia à espera das ondas, a rever os seus artigos para o JL sobre a vocação marítima de Portugal. Para as raparigas, afinal, é ou não é bom saber que os surfistas estão lá, intocados na sua pureza, para quando elas os quiserem? Pode muito bem ser que os surfistas sejam as «louras estúpidas», as dumb blondes da nossa idade. O melhor é dar graças a Deus e não refilar muito. Há muitos outros géneros por onde escolher. Os surfistas devem ser, para as raparigas inteligentes, como o marisco à beira-mar. Embora se coma geralmente peixe e carne, num dia de Verão sabe bem ir comer marisco a uma esplanada de praia. Os surfistas são os camarões da época. É por isso que um dos pratos mais populares nas praias portuguesas é, precisamente, «Camarões à la prancha».
Não se devia dizer mal dos surfistas porque os surfistas são um género novo, que não havia na Idade Média, e que se acrescenta com proveito à variedade do género humano. Querer que sejam profundos, literatos, extremamente sensíveis é como lamentar que os Beach Boys não saibam tocar Bach. Mas infelizmente é uma mania das raparigas portuguesas esta de querer misturar os géneros todos. Vejamos.
As raparigas portuguesas não se contentam com rapazes de um só género. Olham para um surfista, gostam do que veem, mas depois pensam: «Que pena não ter nada naquela cabeça...» E suspiram, como se o mundo fosse injusto. Se o surfista fosse professor catedrático de filosofia já podiam apaixonar-se imediatamente. As raparigas mais literárias pensam ao contrário — olham para o jovem professor que lhes está a dar uma aula fascinante sobre Kant e pensam: «Que pena ele ser tão pouco parecido com o Rob Lowe...»
Que querem afinal as raparigas deste país? Rapazes ideais. Com menos do que isso ficam maçadas. Podem aturar rapazes não ideais, namorá-los, casá-los e até amá-los, mas fica-lhes sempre atravessado aquele príncipe encantado que não veio. E sonham secretamente que ainda está para chegar, só um bocadinho atrasado.
É uma sorte para as raparigas deste país haver para aí rapaziada tão plena de estupidez. Entre os rapazes fazem falta as raparigas estúpidas como se vêem nos filmes. Raparigas que não façam perguntas, que não saibam as respostas, que falem exclusivamente do que não entendem — já não há. Agora são os rapazes que se torturam com dúvidas, virando-se e revirando-se nos lençóis, murmurando: «Será que ela só gosta de mim porque sou uma brasa?» Sentem-se usados por raparigas superiores que decidem repentinamente: «Sabem o que me está a apetecer hoje à tarde? Um surfista.»
Verbo no Presente do Conjuntivo
Verbo no Futuro do Conjuntivo
Verbo no Imperfeito do Conjuntivo
sabe-se lá / vá-se lá saber = go figure
(B1) Excerto do capítulo inicial de Os magos das cassetes de Galateia Grigoridou-Soureli, traduzido por mim.
A verdade era que, tal como a terra, ele era bonito. Tinha oliveiras, figueiras, hortas, trigo.
Tinha também uma igreja em ruínas! Deixaram as janelas abertas para que assim facilmente pudessem entrar as andorinhas, o bando de andorinhas que vinha do Sul, e pudessem fazer ali os seus ninhos. Para que pudessem entrar e sair livremente, e para estarem resguardadas da demasiada ventania.
A verdade era que, tal como a terra, ele era bonito. E outra verdade era que, tal como os homens não são todos iguais, também as andorinhas não são todas iguais.
E era uma companhia, um bando de andorinhas que lançava a sua sombra, na viagem, durante todo o regresso. Porque, tal como tu e eu, e todo o mundo sabe, as andorinhas, quando veem a primeira nuvem escura, o primeiro eriçar do mar, quando lhes toca o ventinho que se tornou frio, anunciando o Outono, lembram-se das suas malas. Põem etiquetas nos seus ninhos: “Fechado devido ao Outono”, colecionam da vizinhança os seus bebés andorinha que choram e gritam porque o seu maior brinquedo se partiu, conseguem a sua atenção, e, em grupo, voam em bando para o sul. Têm bilhete reservado nas costas dos seus irmãos mais velhos – os grandes pássaros que voam pra Sul.
“Cântico Negro” de José Régio, 1926.
“O guardador de Rebanhos” de Fernando Pessoa a e respetiva tradução para inglês “The Keeper of Sheep” de Richard Zenith.
Poema de Alice Vieira, “À Maneira de Prefácio”, retirado da obra Olha-me Como Quem chove.
AULAS DE GRUPO VS AULAS INDIVIDUAIS
Texto de reflexão (B1+)
Enfrentamos um dilema ao escolher entre aulas de grupo e aulas individuais. Ambos os formatos têm as suas vantagens e desvantagens, e a decisão deve considerar as necessidades e as preferências individuais de cada aluno.
Vou começar pelas aulas de grupo. As aulas de grupo oferecem um ambiente dinâmico, propício à interação entre estudantes. Esta interação e partilha entre os alunos pode estimular o interesse e oferecer diferentes perspetivas sobre o conteúdo, aumentando a motivação para aprender mais. Sem dúvida que as aulas de grupo são mais divertidas e dinâmicas do que as aulas individuais. Estar inserido num grupo de estudantes que estão no mesmo ponto que nós faz-nos sentir mais acolhidos, num espaço seguro de partilha sem julgamento e sem vergonha de fazer erros.
Geralmente, as aulas de grupo tendem a ser mais acessíveis financeiramente, tornando a educação mais acessível a mais pessoas.
Por outro lado, geralmente o conteúdo das aulas de grupo é mais generalizado, não servindo tão bem os requisitos e necessidades individuais. É necessário ter a certeza de que estamos no curso e no nível adequados. É também comum existirem alunos com ritmos distintos, resultando em desigualdades nos seus resultados.
As aulas individuais permitem uma atenção mais personalizada do professor, focada nas necessidades específicas do aluno. Quando o aluno se esforça consistentemente, consegue ter uma evolução mais rápida do que teria em aulas de grupo. Relativamente aos aspetos mais negativos, as aulas individuais tendem a ser mais caras, limitando o acesso a uma educação mais personalizada. A aprendizagem pode tornar-se mais isolada e solitária, com a ausência de interação entre colegas, eliminando a dinâmica de partilha que é tão motivadora.
Em última análise, a escolha entre aulas de grupo e aulas individuais deve basear-se na preferência do aluno e nas suas metas e objetivos educativos. Cada formato oferece uma experiência única, e a chave está em encontrar o equilíbrio certo para uma jornada educativa bem-sucedida.